VOCÊ:
elo do sistema que mantém a Segurança Pública
Por Cap PM Josiani G. S. Costa
Publicado em: Revista "A Mantiqueira"
Ano 1 - Volume 3
setembro a dezembro de 2011
Como conta a história, o
exercício da atividade de polícia é tão antigo que se perde nos tempos. Nos seus primórdios, chegou
até a confundir-se com a Magistratura estatal. Todavia, no século XVIII, com a Revolução Francesa, passou-se a combater esse desmedido
poder de prender e julgar, nas mãos das mesmas autoridades. Dessa época advém a conhecida divisão da Polícia em dois
grandes ramos: Polícia Administrativa e Polícia Judiciária, as quais formam o
ciclo completo de policia, sendo a primeira responsável pela manutenção da
Ordem Pública e pela prevenção das infrações penais; e a última, pela apuração
das infrações não evitadas, pela
colheita de provas e pela condução dos infratores
aos tribunais.
Nestas duas searas, em âmbito Estadual atuam as Polícias Militar e Civil,
possuindo, ambas, atividades nos dois
ramos, mas tendo suas missões típicas bem definidas legalmente, sendo a Polícia Civil principalmente
responsável pelos atos de Polícia Judiciária (exceção feita ao contemplado pelo Direito Penal Militar) e,
por força de previsão constitucional, a missão da Polícia Militar é a
preservação da Ordem Pública e o
exercício da Polícia Ostensiva, coisas distintas, porém complementares.
Temos que polícia ostensiva envolve atividades de prevenção primária
e secundária, para consecução da segurança pública, tais como policiamento
comunitário, radiopatrulhamento etc, com o fim de prevenir o cometimento de
ilícitos penais ou de infrações
administrativas sujeitas ao controle da Instituição. Exemplos bem sucedidos de prevenção primária, na
área de atuação do 24º Batalhão de Polícia Militar do Interior, é o Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência
(PROERD).
Outras atividades preventivas, não patrocinadas pela Polícia Militar, tais como o
Programa Escola da Família e programas de coparticipação da
comunidade em ações comunitárias,
para elevação da qualidade de vida (“Parceiros
do Bem” e “Amor Exigente”, desenvolvidos em São João da Boa Vista/SP, por
exemplo) etc, são também de suma
importância.
Por sua vez, polícia de preservação da ordem pública é a atividade de restauração da ordem, envolvendo a repressão
imediata às infrações penais e administrativas e a aplicação da lei.
Ocorre que a ordem pública
apresenta pelo menos três campos bem delineados: Salubridade Pública, Tranquilidade Pública e Segurança Pública, de forma
que existe ordem no campo da Salubridade quando, dentre outros, há bom funcionamento dos sistemas de saúde e saneamento básico; no da Tranquilidade, quando estejam funcionando bem os sistemas
trabalhista, habitacional, carcerário e agrário, dentre outros; e por fim, no campo da segurança
haverá ordem quando inexistirem delitos. Note-se, como afirma o renomado
jurista Alvaro Lazzarini, que "a
Segurança pública plena é, pois, uma utopia, mas seu ideal deve ser
perseguido...”
Para os profissionais e estudiosos da segurança pública é notório que,
principalmente por que a demanda nos campos da salubridade e da tranquilidade
aumenta, dia a dia, somos obrigados cada vez mais a diminuir nossa oferta no
campo da segurança pública. O deslocamento constantes da Polícia Militar para socorrer a salubridade e tranquilidade
compromete o exercício da polícia ostensiva
e então temos uma terrível ironia:
a Polícia Militar, ao agir nos
demais campos, diante da ausência, da falha, ou mesmo da falência de outros
órgãos responsáveis, acaba punida pela opinião popular, por causa desta ação de
socorro que a faz enfraquecer no seu campo
mais específico, onde vê diminuído seu potencial.
Vejamos: a população da Terra, no ano 1, era de 300 milhões de pessoas; para
dobrar, demorou 1600 anos. Em 1960 já era de 3 bilhões de pessoas; para dobrar
demorou apenas 39 anos (1999). No último mês de outubro completamos 7 bilhões
de habitantes no mundo. Estudos apontam que a expectativa média de vida
desta população aumentou, desde 1950, em 20 anos.
Obviamente que todo esse
crescimento populacional não ocorreu de forma a ser acompanhado pelos vários
setores que proporcionam o bem estar dos bilhões
de habitantes (aproximadamente 191
milhões, no Brasil). Deixando de lado outros setores, a carência de
serviços públicos adequados está em todos os ramos da convivência humana, e
toda omissão tem reflexos diretos ou indiretos na segurança.
O desemprego, a falta de educação, a precariedade nos serviços de saúde,
a desagregação da família, as filosofias religiosas libertárias, a morosidade ou a ausência da justiça, a desregrada busca de riqueza, o apelo
consumista, o afrouxamento dos princípios
morais, dentre outros fatores, estão a ditar a rápida perda da qualidade de
vida. E a recuperação disto tudo exige a participação de todos,
com maior ou menor intensidade.
O crime é um fenômeno social e que, portanto, exige ações sociais. Compreender
a dinâmica criminal não significa apenas detectar
os espaços de crimes/criminosos e suas características para ações repressivas. Antes de tudo, é necessário entender os processos
operacionais do crime para antecipar-se a ele, prevenindo sua ocorrência. E esta
prevenção deve ser comunitária, por meio de políticas que intervenham positivamente
nas suas causas. É preciso promover um sistema de prevenção primária que atue
na raiz do problema, que contemple a qualidade de vida em seus aspectos elementares de bem estar social, como trabalho, moradia, educação, socialização
etc, condições essenciais para dotar os cidadãos de capacidade social para
superar de forma produtiva eventuais conflitos.
Quando pensamos em décadas atrás, vemos que a família exercia maior
controle sobre seus membros. O padrão moral era mais sólido e definido, os pais
conviviam mais com os filhos, impondo o padrão moral, cultural e social. Hoje a
desagregação familiar ditada pela escravização econômica moderna exige que
todos os membros ativos da família passem a trabalhar fora de casa, impondo a quebra dos laços
unificadores aos integrantes dessa importante base de sustentação da sociedade.
E o que falar do afastamento ou
banalização da prática religiosa, o
que também aumenta o liberalismo dos atos, ditando o perfil social dos nossos
jovens? Considera-se importante que a Igreja, fundamental nas atividades
de prevenção primária, repense atrativos para a população em geral, bem como seu envolvimento nas soluções de
questões sociais que lhe pedem socorro.
Há que se recuperar ainda a escola pública. Essa instituição foi modelar há algumas décadas e hoje deparamos com o
preenchimento de mera formalidade acadêmica. Comum era o sonho de muitos jovens serem professores, pois tais
profissionais tinham o respeito e o reconhecimento social. Hoje se
vê, a cada ano, o empobrecimento dos currículos, dos
conteúdos pedagógicos, das atividades extracurriculares, da educação para a
vida em sociedade e do encaminhamento profissional.
Por ser de maior visibilidade, a Polícia Militar acaba sendo o órgão mais
questionado e eleito erroneamente como sendo o único órgão capaz de resolver
os conflitos que perturbam a paz social, todavia, tanto a comunidade como a
mídia (órgão de estrema importância como formador de opinião) necessitam melhor
compreender e respeitar a função e
limitações da Corporação, para
poder colaborar no aperfeiçoamento do sistema de manutenção da ordem.
Uma polícia que não conte
com a compreensão, aceitação e apoio da comunidade estará desfalcada de forças
imprescindíveis: o respeito
institucional (que conduz a polícia
a ser reconhecida como parceira em qualquer discussão relevante, por parte da
sociedade); voluntários seletos
disputando ingresso em seus quadros, atraídos pelo prestígio auferido pelos
membros da força; autoestima, a
funcionar como poderoso
instrumento de comprometimento e inclusão dos profissionais aos elevados
princípios éticos que norteiam a Instituição, sem a qual tanto pode o policial apresentar desapego à sua atividade, como trilhar o caminho da
malversação, estampada nos desvios funcionais; e, finalmente, a mais preciosa, a produção de informações oriundas da comunidade, sem as quais o
enfrentamento da criminalidade jamais poderá prosperar.
Expostos a tal realidade, sabe-se
que a mudança não ocorre de um dia
para o outro, mas o mundo pode, sim, ser modificado começando pelo
bairro da cidade onde se vive. A
história mostra que os países podem ser reconstruídos, que os inimigos podem reatar os laços de amizade, que o
amor pode vencer o ódio, mas sem vontade e
envolvimento nada disso acontece.
A comunidade onde vivemos possui plenas condições de realização de seus
objetivos e vencer atos a ela lesivos.
A união da sociedade com o Estado é o
caminho para o efetivo cumprimento dos princípios que foram enumerados na Constituição Federal, dentre eles o direito à dignidade, à vida, à liberdade, à
propriedade e à segurança, o que permitirá o combate efetivo às
causas e os efeitos da criminalidade.
A presença da Polícia Militar, nesta busca, é garantida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário